Tirar férias tende a prolongar a vida. Esta é a conclusão de um estudo feito ao longo de 40 anos e apresentado nesta terça-feira, dia 28, no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia e aceito para publicação no "Journal of Nutrition, Health & Aging".
— Não pense que ter um estilo de vida saudável pode compensar o fato de se trabalhar pesado e não tirar férias — disse o professor Timo Strandberg, da Universidade de Helsinque, na Finlândia. — As férias podem ser uma boa maneira de aliviar o estresse.
O estudo incluiu 1.222 homens executivos de meia-idade nascidos em 1919 a 1934 e recrutados no Helsinki Businessmen Study em 1974 e em 1975. Os participantes tinham pelo menos um fator de risco para doença cardiovascular (tabagismo, pressão alta, colesterol alto, triglicérides elevados, intolerância à glicose ou excesso de peso).
Os participantes foram separados em um grupo de controle (610 homens) e um grupo de intervenção (612 homens) por cinco anos. O grupo de intervenção recebeu conselhos orais e escritos a cada quatro meses para fazer atividade física aeróbica, comer uma dieta saudável, atingir um peso saudável e parar de fumar. Quando os conselhos de saúde isoladamente não foram eficazes, os homens do grupo de intervenção também receberam medicamentos recomendados na época para reduzir a pressão arterial (betabloqueadores e diuréticos) e os lipídios (clofibrato e probucol). Os homens do grupo de controle receberam cuidados de saúde habituais e não foram acompanhados pelos investigadores.
MAIS DE TRÊS SEMANAS DE FÉRIAS, MENOS MORTES
Férias mais curtas foram associadas ao excesso de mortes no grupo de intervenção. Neste grupo, os homens que tiraram três semanas ou menos de férias anuais tiveram um risco 37% maior de morrer do que aqueles que ficaram de férias por mais de três semanas, no período de 1974 a 2004. Já no grupo de controle, o tempo de férias não teve impacto no risco de morte.
— Em nosso estudo, homens com férias mais curtas trabalhavam mais e dormiam menos do que aqueles que tiravam férias mais longas — destacou professor Strandberg. — Esse estilo de vida estressante pode ter anulado os benefícios da intervenção. Acreditamos que a intervenção em si também pode ter tido um efeito psicológico adverso sobre esses homens, acrescentando estresse às suas vidas.
O risco de doença cardiovascular foi reduzido em 46% no grupo de intervenção, em comparação com o grupo controle até o final do estudo. No entanto, quando nos 15 primeiros anos de acompanhamento, em 1989, houve mais mortes no grupo de intervenção do que no de controle.
CONTROLE DE ESTRESSE
A análise apresentada hoje ampliou o acompanhamento dos índices de mortalidade para 40 anos — até 2014 —, usando registros nacionais de óbitos. Examinou também dados de referência anteriormente não relatados sobre os volumes de trabalho, sono e férias dos indivíduos. Os pesquisadores descobriram que a taxa de mortalidade foi consistentemente maior no grupo de intervenção, quando comparado com o grupo de controle até 2004. Já entre 2004 e 2014, as taxas de mortalidade foram as mesmas em ambos os grupos.
O professor Strandberg observou que o controle do estresse não fazia parte da medicina preventiva na década de 1970, mas é agora recomendado para indivíduos com alguma doença cardiovascular ou com risco de desenvolver uma. Além disso, medicamentos mais eficazes estão disponíveis para baixar o colesterol (estatinas) e a pressão sanguínea (inibidores da enzima conversora de angiotensina, bloqueadores dos receptores da angiotensina e bloqueadores dos canais de cálcio).
— Nossos dados sugerem que a redução do estresse é parte essencial dos programas que visam reduzir o risco de eventos cardiovasculares em indivíduos de alto risco — ressaltou Strandberg.
Fonte: O Globo/28.08.2018
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