Quem já não se sentiu feliz durante a degustação de um delicioso pedaço de chocolate ou ao término de um pudim de leite condensado? Pois é, estas "emoções" surgem após a elevação de substâncias no cérebro chamadas de neurotransmissores. São estas substâncias, especialmente a serotonina e a dopamina, que vão às alturas quando você recebe a notícia que ganhou na Mega-Sena, bateu a meta nos seus projetos e até mesmo durante um orgasmo. A sensação de alegria, humor, prazer e felicidade dependem destes neurotransmissores para serem percebidos pelo cérebro. Aliás, muitas pessoas se tornam dependentes químicos de algumas drogas pois muitas delas também são capazes de estimular a dopamina, viciando o cérebro em querer constantemente esta sensação de êxtase.
Ao longo dos últimos anos os estudos de neurofisiologia vêm mostrando que determinados alimentos têm a capacidade de estimular diretamente a serotonina e a dopamina, podendo também viciar nosso cérebro na busca constante por eles. Tanto o açúcar como os alimentos "gordurosos" estimulam a serotonina e a dopamina, respectivamente.
Vamos entender isto melhor? A serotonina, neurotransmissor que atua no humor, sono, apetite, relaxamento e bem-estar, não surge do além no nosso cérebro sendo necessário fabricá-la. Entra aí uma matéria-prima fundamental para a produção da serotonina, um nutriente (aminoácido) chamado triptofano, provindo de fontes alimentares, mas que para conseguir entrar dentro do cérebro e servir como matéria-prima para formar a serotonina necessita da carona da glicose, que é outro nutriente gerado pela ingestão dos carboidratos, como os cereais, legumes e verduras, frutas e entrando aí também os açucares e doces como exemplos.
Uma dieta isenta de carboidratos, como muitos fazem para perder peso, leva muitos seguidores à um tremendo mau humor e irritabilidade, possivelmente por queda de serotonina cerebral. Aliás, é a queda da serotonina e da dopamina no cérebro que desencadeia os quadros de depressão, não à toa os medicamentos prescritos pelos psiquiatras para o tratamento da mesma têm como objetivo equilibrar os níveis destes neurotransmissores. Mas por quais motivos há a queda de serotonina no cérebro? Além da predisposição genética, fatores hormonais podem influenciar como a alteração de determinados hormônios antes da menstruação, levando a mulher à ficar ávida por doces.
A triptamina, substância encontrada no chocolate, estimula diretamente a produção da serotonina, justificando então esta necessidade de abocanhar uma caixa inteira de chocolate que muitas mulheres têm antes de menstruar. Fatores como estresse contínuo (emocional, físico, etc) também são capazes de levar a queda de serotonina no cérebro, desencadeando também quadros de depressão.
Estudos publicados nos últimos anos associam dieta rica em açúcares com maior tendência à depressão, embora muitos deles tenham número baixo de participantes, não podendo extrapolar para a população geral, já que existem fatores genéticos (individuais) que tornam determinadas pessoas à serem mais susceptíveis à depressão, não correlacionada diretamente com o consumo de açúcares. Um estudo publicado em abril de 2014 no Journal Plos One (Journal.Pone) concluiu que uma dieta rica em bebidas açucaradas pode aumentar o risco de depressão em idosos, ao passo que o consumo de cafeína em níveis adequados poderia diminuir o risco neste mesmo grupo.
De qualquer forma, toda vez que há um estímulo intenso na produção de um neurotransmissor, como a dopamina e a serotonina, por exemplo após o uso recreativo de uma droga, passado o efeito estimulatório em seguida certamente virá uma sensação desagradável de depressão, justamente pela queda súbita destes neurotransmissores após o hiper estímulo. Pessoas que utilizam cocaína de maneira recreativa referem uma sensação de depressão quando termina o efeito da droga. É possível então que pacientes com tendência à depressão ou mesmo já deprimidos, após consumirem açúcar e terem sua serotonina estimulada queiram repetir seu consumo constantemente após algum tempo de sua ingesta, à fim de manter a sensação de prazer desencadeada pelo açúcar, tornando-se então um ciclo vicioso.
Outra linha de raciocínio também pode ajudar a compreender os estragos do açúcar no cérebro. Sabe-se que a elevação exagerada da glicose (açúcar) no sangue leva à uma oxidação (glicação) de determinas células, incluindo os neurônios cerebrais, fato este capaz de atrapalhar a neurotransmissão, que é a capacidade dos neurônios de se comunicarem adequadamente entre si, influenciando então negativamente no perfeito funcionamento cerebral, incluindo a ação adequada dos neurotransmissores. Com este mecanismo de neurotransmissão prejudicado poderia haver um ação menos eficiente da serotonina. Estudos estão em andamento para confirmar esta hipótese.
Realmente, em termos científicos, é difícil concluir se o consumo excessivo de açúcar desencadeia a depressão ou se o depressivo tem no açúcar um "alimento conforto" que lhe traga sensação de "prazer", ou seja, se é causa ou consequência.
Enfim, o ideal é que devemos fornecer para o cérebro, através da nossa alimentação, nutrientes que sejam importantes para a produção da serotonina, como é o caso do triptofano, encontrado nas oleaginosas como as castanhas, nozes, amêndoas e amendoim, peixes, iogurte, ovo, ervilha, banana, couve-flor, entre outros. O ácido fólico, encontrado também na lentilha, levedo de cerveja, feijão preto, grão de bico, brócolis, espinafre, contribui também para a produção dos neurotransmissores cerebrais envolvidos no humor e bem estar, contribuindo para a diminuição do risco na prevalência da depressão, já que estudos correlacionaram maior número de pessoas depressivas em populações com baixa ingestão de ácido fólico.
No mais também é importante procurar profissionais capacitados para abordar de maneira precisa o diagnóstico e tratamento da depressão que na maioria das vezes leva à uma perda de qualidade de vida comprometendo o dia a dia das pessoas que se encontram nesta condição. Cuide-se e busque uma alimentação saudável sempre que possível.
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